Nas três últimas décadas, a rápida expansão de conhecimentos e técnicas ao dispor da ciência levou a que esta se tornasse um instrumento para ser utilizado pelo ser humano, ao serviço do ser humano e com aplicação direta no ser humano. Intrinsecamente associada à genética, a clonagem humana ou de órgãos é ainda uma promessa por cumprir. Porém, as técnicas de regeneração celular, a criopreservação de células do cordão umbilical ou a reprodução medicamente assistida são já utilizadas. Os organismos geneticamente modificados (OGM) são outra das aplicações possíveis, numa ten-tativa de debelar um dos grandes flagelos mundiais: a fome.
Os diferentes usos que a biotecnologia coloca hoje ao dispor do ser humano surgem como uma promessa de mais saúde e melhor qualidade de vida, trazendo uma esperança renovada não só a quem não tem o que comer, mas também a quem padece de doenças, permitindo a sua deteção precoce e identificando potenciais doentes assintomáticos, ou mesmo tornando possível a procriação sem a união de dois seres de sexo oposto. Concomitantemente, tem vindo a constituir-se como uma arma crucial no combate à insegurança, à criminalidade e ao terrorismo, quer através da utilização de métodos biométricos, que permitem o reconhecimento de características individuais (retina ou íris, por exemplo), quer através de bases de dados de perfis genéticos de ADN, que, ao armazenarem informações genéticas sobre os indivíduos, tornarão mais fácil identificar e condenar criminosos e ilibar inocentes, trazendo quiçá uma (falsa) aparência de mais segurança aos cidadãos. No próprio cenário do crime é visível o uso cada vez mais generalizado de tecnologia de ADN na análise de vestígios, propondo-se auxiliar na descoberta e apuramento da verdade, dando um contributo para uma justiça mais célere, mais eficaz e mais rigorosa. Importa, porém, equacionar as implicações éticas, morais e sociais, os benefícios, os limites, os custos (incluindo os sociais), as potencialidades e os riscos da utilização da biotecnologia.
Susana Costa