Apresentação Pública | ||
A Anatomia da Crise: Identificar os problemas para construir as alternativas. Apresentação do primeiro relatório do Observatório sobre Crises e Alternativas | ||
11 de dezembro de 2013, 14h30, Auditório 3, Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) |
Compreender a Crise: A economia portuguesa num quadro europeu desfavorável
Nunca como nos dias que correm foi tão claro que os alvos da austeridade são o trabalho e as remunerações salariais diretas e indiretas, ou seja, as que estão associadas aos serviços públicos que capacitam a sociedade e às regras laborais e prestações sociais que protegem quem trabalha ou trabalhou. Mas a austeridade só pode ser compreendida no quadro de uma multidimensional economia de dependência nacional face ao exterior, resultado do atrofiamento da capacidade produtiva interna, que culminou numa dívida externa recorde, e cuja formação é sobredeterminada por uma arquitetura institucional da integração europeia, consolidada sobretudo a partir de Maastricht. Os principais mecanismos e os resultados hoje visíveis desta articulação entre dependência e integração, no quadro de uma cada vez maior saliência das divisões centro-periferia e credor-devedor, têm de ser criticamente interpretados. É o que se começa a fazer neste capítulo, usando um quadro de economia política. Isso permite sublinhar dois pontos, sob a forma de teses. Em primeiro lugar, não é possível compreender uma economia crescentemente dependente sem identificar a forma como as dinâmicas internas foram sobretudo determinadas por acontecimentos externos, cujo impacto cada vez mais forte levou a decisões políticas internas de reforço da integração da economia portuguesa, estreitando o caminho à medida que tal integração mudava a sua natureza. Em segundo lugar, importa sublinhar que o crescente peso da esfera financeira e do endividamento externo permitiu adiar a revelação da incompatibilidade entre alguns desenvolvimentos progressivos no campo social registados e a economia que estava em construção, e que minaria aquelas opções sociais e políticas. Neste contexto, a atual crise e as respostas políticas em curso podem ser interpretadas a uma nova e mais correta luz.