Novas Poéticas de Resistência: o século XXI em Portugal

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Catarina Costa



do fundo do abismo eu chamo-te Elohim
- diz ela

enquanto mentalmente tilintam as cordas

 

é um chamamento que amiúde se repercute

numa masmorra

ou cama de hospital

 

mas desta vez as cordas são pressionadas

até ao nó da forca – fazem ranger

o único caule ainda em aprumo

 

não sabemos quem ela foi –

também nós aquando no fundo

chamámos e ouvimos as cordas

porém só nas antecâmaras

em vagos substratos

 

não fomos atendidos

 

e certamente ela também não



























Não estilizarás

Se não se pode escrever poesia depois disto, então nem o lamento se deve permitir. O lamento, essa lamúria polida, peso melífluo ou pesarosa leveza que se frui na subvocalidade como musiquinha de glória. Ventríloquo celebrando o jogo perdido.

Antes se progrida seguindo os rituais dos antigos, dos que não atraiçoam. Fazer do espiritismo uma técnica brotada dos espíritos benfazejos, condescender com as artes sinistras que conjuram a falta e urdem setas por intermédio dos elementos. A cartomancia, o tiro ao arco. Sarar a contusão das flechas com os pensamentos de sempre em linha de sentido até ao quebranto. E já no estertor, a mente a tomar notas sem fim sobre alguma plangência ao acaso.

Não serão permitidos os sete minutos de silêncio. Prossiga-se, muito há ainda para afinar. Espiga o entender. Estendendo. A esquecer.










Catarina Costa nasceu em Coimbra em 1985. Estudou Psicologia. Publicou poemas em algumas revistas entre as quais a Oficina de Poesia e a Sibila. Em 2007 ganhou o Prémio de Poesia Guilherme de Faria, do qual resultou a publicação do livro Marcas de urze na Editora Cosmorama.

 


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