2ª Mesa Redonda Interdisciplinar

Multilinguismos: métodos e espaços de ação em/com português

6 de fevereiro de 2015, 09h30

CES-Lisboa (Picoas Plaza | Rua do Viriato, 13, Lj. 117-118)

Resumo das Comunicações:

11h15-12h15 - Sessão 1 Investigando contextos de prática em língua portuguesa

Roberval Teixeira e Silva (Universidade de Macau e AILP: Associação Internacional de Linguística da Língua Portuguesa)
Título: O discurso didático como espaço de encontros e desencontros entre as culturas e línguas dos Países de Língua Portuguesa em Macau
Resumo: O discurso da sala de aula é construído por interações (microcosmo) que espelham e criam valores, ideais, preconceitos, mitos, estereótipos, padrões… os quais motivam e permeiam as relações sociais (macrocosmo). Nesse sentido, quando se pretende entender processos de globalização e relações interculturais de forma a construirmos competência multicultural (e/ou vice-versa) a partir da sala de aula de Português como língua não materna (PLNM), é preciso debruçar-se sobre a sociedade. Entretanto, em processo dialético, para buscar entender a sociedade, é necessário olhar para as microinterações específicas nas quais sujeitos específicos, em momentos e espaços específicos vão (re)significando as relações sociais. Em um momento em que a língua portuguesa ganha cada vez mais espaço e torna-se arena de interações de diversa ordem, parece interessando refletir sobre de que maneira, na sala de aula, esse novo status está sendo trabalhado. Dessa forma, como objeto de análise, elencamos os discursos didáticos presentes nos materiais pedagógicos de PLNM utilizados na RAEM (Região Administrativa Especial de Macau). Esses discursos, eivados das ideologias, valores, crenças das sociedades onde foram gerados, apontam uma série de diferentes lugares para as culturas e línguas dos países de língua portuguesa. Observamos que podem ser o lugar do encontro e do desencontro entre sujeitos, línguas e culturas que por questões históricas, sociais e econômicas estão em contato em Macau. Especificamente verificaremos algumas representações que são criadas para esses países nos materiais didáticos em estudo. Tais representações poderão revelar um pouco a perspectiva veiculada em sala de aula no processo de construção da imagem para esses países entre jovens aprendizes de português. Para empreender essa análise e teorização sobre os discursos didáticos em foco, trabalharemos sob a abordagem Sociolinguística Interacional (Teixeira e Silva, 2012, 2011, 2009, 2008; Gumperz, 2008, 1982, 1991; Ribeiro e Garcez, 2002; Schiffrin, 1994, 1996; Goffman, 1959, 1967, 1974), considerando os conceitos de (pós)multiculturalismo (Moreira, 2002; Vertovec, 2010) e de superdiversidade (Blommaert & Backus, 2011; Vertovec, 2007).

Filipa Perdigão Ribeiro e Kate Torkington (Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo / Universidade do Algarve – Portugal)
Título: Questões de usos de língua(s) e migração: o caso do Algarve
Resumo: O Census de 2011 indica que 17% da população residente no Algarve é estrangeira, muito acima dos 3,5% de estrangeiros residentes em todo o território nacional. Ainda de acordo com o Census, cerca de metade dos estrangeiros no Algarve provêm de países europeus, tanto do norte como do leste. Partindo do pressuposto de que o uso e a escolha da língua são questões políticas fundamentais que afetam a posição social e económica dos grupos sociais num dado território, estamos interessadas em compreender os discursos produzidos no espaço público (media, discursos oficiais e academia) e estudar e comparar os usos da(s) língua(s) no quotidiano destes diferentes grupos, tomando como perspetiva de análise as políticas oficiais de integração do estado português, que ainda justapõem à ideia de nação a ideia de língua oficial do estado como fator fundamental de cidadania. Através de uma metodologia mista, combinando dados quantitativos, entrevistas, análise da paisagem linguística e discursos da esfera pública, procurámos compreender o conhecimento da língua portuguesa, o valor atribuído a esse conhecimento, as práticas e usos da língua em vários contextos do quotidiano, a facilidade/dificuldade na aprendizagem, o valor simbólico e instrumental atribuído ao conhecimento da língua portuguesa, os contextos de prática e finalmente se os recursos linguísticos influenciam o “sucesso” destes imigrantes.

12h15 - 13h15 - Sessão 2 Multilinguismo, etnografia crítica e análise de discurso

Emanuel da Silva (University of Jyväskylä – FINLÂNDIA / University of Toronto – CANADÁ)
Título: Desconstruindo a economia política do multilinguismo através de uma sociolinguística crítica e etnográfica.
Resumo: Os conceitos de língua, de identidade, e de comunidade são conjuntos de recursos simbólicos e materiais que revelam e definem posicionamentos e estruturas sociais no contexto de mercados específicos. A partir de um quadro metodológico e teórico de sociolinguística crítica e etnográfica o meu trabalho tem explorado o desenvolvimento de ideologias dominantes sobre a língua portuguesa no contexto diaspórico da comunidade portuguesa de Toronto. A perspectiva crítica leva-me a perguntar quem é que define os recursos linguísticos e sociais? Como? Porquê? E com quais consequências para quem? Através de observações etnográficas de trajetórias e sítios múltiplos, de análises de textos e entrevistas semi-estruturadas com diferentes atores sociais, e de pesquisas históricas é possível situar interações específicas e descontruir debates sobre legitimidade e poder.

Isabelle Simões Marques (Universidade Aberta / CLUNL Universidade Nova – PORTUGAL)
Título: Como analisar a língua do outro? Exemplo de um corpus literário contemporâneo do ponto de vista da Análise do Discurso
Resumo: Propomo-nos interrogar sobre as condições de constituição do nosso corpus de tese de doutoramento, constituído por romances ligados à questão do exílio (económico, político e guerra colonial), publicados antes e depois da Revolução dos Cravos. Estes romances estão fortemente marcados pelo plurilinguismo literário e o objetivo do nosso trabalho foi entender como a alteridade é inserida nos textos. Estes romances são interpretáveis, por um lado, à luz do quadro institucional em que foram produzidos e, por outro lado, tomando em conta as restrições discursivas e institucionais que lhes foram impostas. Os trabalhos em linguística textual estão atentos a dados extratextuais, captados pela noção de contexto. A Análise de Discurso, que visa analisar discursos escritos ou orais, considerados na sua materialidade linguística e nas suas condições de produção históricas e políticas, oferece uma perspetiva que permite estruturar a interpretação destes textos.

Mostraremos as implicações de tal perspetiva no tratamento do co(n)texto na constituição de um corpus, segundo uma exploração qualitativa e interpretativa dos discursos.

14h30 - 15h30 – Sessão 3 Planeamento linguístico em contextos pós-coloniais

Tjerk Hagemeijer (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – PORTUGAL)
Título: Multilinguismo em São Tomé e Príncipe
Resumo: São objetivos desta comunicação (i) apresentar o contexto linguístico de São Tomé e Príncipe, (ii) analisar as razões socio-históricas que conduziram à acelerada nativização do português, em detrimento dos crioulos autóctones, (iii) refletir sobre as consequências linguísticas resultantes desta realidade multilingue, e (iv) discutir o papel da investigação em linguística em questões de planeamento linguístico, quer na vertente da revitalização dos crioulos quer na vertente do estudo da variedade são-tomense do português.

Felisa Rodríguez Prado (Grupo de Estudos nos Sistemas Culturais Galego, Luso, Africanos de Língua Portuguesa e Brasileiro (GALABRA), Faculdade de Filologia, Universidade de Santiago de Compostela - ESPANHA)
Título: Abordar a literatura de Cabo Verde: o desafio de conjugar línguas e espaços
Resumo:

15h45 - 16h45 - Sessão 4 Multilinguismo, identidades e herança cultural

Ildegrada da Costa Cabral (University of Birmingham – REINO UNIDO)

Alan Silvio Ribeiro Carneiro (Universidade Estadual de Campinas – BRASIL)
Título: Diferentes valores linguísticos e usos da língua – duas investigações etnográficas em Timor-Leste multilingue.
Resumo: Timor-Leste, pequeno país localizado no sudeste asiático conquistou sua independência em 2002, após um período de uma violenta ocupação da Indonésia e a dominação colonial portuguesa. A constituição do país reconhece a língua portuguesa e a língua tétum como línguas oficiais, dá o estatuto de línguas de trabalho ao inglês e ao indonésio, reconhecendo também as diversas línguas locais como línguas nacionais.

O objectivo desta comunicação é apresentar o desenvolvimento das estratégias de pesquisa de duas investigações de carácter etnográfico realizadas em Timor-Leste sobre o funcionamento das políticas linguísticas locais que tentam captar as tensões existentes na distribuição de valores atribuída a diferentes línguas. A primeira pesquisa teve como foco os discursos de professores de Língua Portuguesa timorenses acerca de suas trajectórias sociais, dos repertórios linguísticos locais e das políticas linguísticas que estão sendo implementadas no país. No âmbito desta pesquisa foram realizadas oito entrevistas com professores formados e oito professores em formação do curso de Licenciatura em Língua Portuguesa, da Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL).

A segunda pesquisa, que representa uma etnografia linguística realizada em 2012, cujo foco foram as práticas de educação bilíngue de duas professoras timorenses do 6º ano, usando português e tétum, para falar de textos em português dos manuais de Língua Portuguese e Estudo do Meio. Incluiu notas de campo, gravações áudio das interacções de sala de aula, entrevistas com as professoras, o director da escola e membros do Ministério da Educação e Parlamento envolvidos na implementação da política linguística de Timor-Leste. Sendo natural de Timor-Leste, a própria investigadora tentou reflectir de que forma a sua herança cultural e ligações de afinidade influenciaram o seu processo etnográfico.

Maria Nazaré Lima (Universidade do Estado da Bahia (UNEB) -- BRASIL)
Título: Reflexões sobre leitura/escrita e seu papel no reposicionamento das relações raciais
Resumo: As culturas afro-brasileiras e indígenas no Brasil são vistas numa perspectiva ideológica forjada pelo racismo, preconceito e discriminação racial. Isso, infelizmente, se materializa nos discursos em sala de aula, nos livros e materiais didáticos, na desatenção a alunos negros/as e indígenas, nos preconceitos embutidos em apelidos, brincadeiras e outras práticas com viés discriminatório. Nesta comunicação, analiso alguns aspectos metodológicos do trabalho com a leitura e produção escrita de mulheres negras, numa experiência de formação de professores/as com foco nas dimensões de raça-gênero, e tento discutir como essas práticas podem contribuir na reconfiguração das relações raciais na sociedade.