Sessão Cinematográfica

"Dundo, Memória Colonial"

17 de maio de 2011

Sala de seminários (2º piso), CES-Coimbra

 

Filme: “Dundo, Memória Colonial” de Diana Andringa
[Portugal, 2009, 60 minutos]

Sinopse: «O filme começa com velhas fotografias: as minhas, em criança, no Dundo. Mostro-as à minha filha, enquanto vou explicando o que era, nesse tempo, a Diamang. A minha certidão de nascimento permite-me contar-lhe que, ao nascer em Angola, me tornei portuguesa “de segunda”. Explico-lhe como as memórias da minha infância no Dundo me marcaram, como foram elas que me levaram a lutar pela independência de Angola, como foi a essas memórias que recorri, na minha defesa no Tribunal Plenário de Lisboa. Entretanto, no Arquivo da Cinemateca, encontro filmes sobre o Dundo: os meus padrinhos, os jogos de ténis, os divertimentos organizados pela Companhia num ambiente de rigorosa segregação racial. As imagens ilustram bem a política racial da Companhia e dão azo a recordar a polémica entre o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre e o todo poderoso “patrão” da Diamang, Comandante Ernesto Vilhena. No almoço anual dos antigos funcionários da Diamang recolho algumas memórias sobre a Companhia. Talvez porque os que as emitem deixaram o Dundo muito mais tarde do que eu, estranho o retrato que me fazem. E parto para o Dundo com a minha filha, para confrontar a minha memória.»

Comentadores:
Diana Andringa - Nasceu em 1947 no Dundo, em Angola, e veio para Portugal em 1958. Terminado o liceu, optou por Medicina, mas as prisões de estudantes, o contacto com algumas crianças internadas, as inundações de 1967, levaram-na a optar pelo Jornalismo. A primeira redacção a que pertenceu foi, em 1968/69,  a da revista Vida Mundial, da qual saiu no âmbito de uma demissão colectiva. Trabalhou depois como copy-writer numa agência de publicidade,  experiência interrompida pela prisão pela PIDE em Janeiro de 1970. Libertada em Setembro de 1971, oscilou, ao sabor de despedimentos e encerramento de empresas, entre o jornalismo e a publicidade. Entrou para a RTP em 1978, para só sair 23 anos mais tarde. Pelo meio, escreveu crónicas para jornais e rádios, foi efémera Directora-Adjunta de Mário Mesquita, no Diário de Lisboa, deu aulas na ESE-Setúbal e na ESCS e voltou a estudar no final dos anos 90. É documentarista independente.

Silvia Maeso - Investigadora do Centro de Estudos Sociais - Laboratório Associado e co-coordenadora do Núcleo Democracia, Cidadania e Direito. Doutorada em Sociologia pela Universidade do País Basco, os seus interesses de investigação decorrem nas área da Sociologia Política, nomeadamente sobre as temáticas do (anti-)racismo, eurocentrismo e o ensino da história, identidades coletivas, comissões da verdade e política do testemunho.
 

Enquadramento de “Violência, Memória e Pós-Memória: Ciclo com Cinema dentro

Nos últimos anos, a perspectiva da vítima e as questões ligadas ao que recentemente se tem vindo a chamar de "pós-memória" ganharam uma importância crescente na abordagem das violências. ALei da Memória Histórica, em Espanha, foi apenas um último exemplo deste debate, particularmente relevante em territórios nos quais se produziram mudanças políticas que desocultaram ou judicializaram processos de violência realizados a coberto do poder estatal. No entanto, a problematização da violência à luz da (memória da) vítima e dos reflexos familiares, sociais ou políticos que a partir dela perduram não se circunscreve apenas aos contextos da transformação política mais visível, mas antes convoca a uma reflexão mais ampla sobre direitos humanos e democracia, justiça e impunidade, memória individual e memória social. Numa organização conjunto do CES e da CULTRA, o ciclo sobre "Violência, Memória e Pós-Memória" pretende fazê-lo a partir de três filmes sobre três diferentes realidades temporais e geográficas - a guerra civil espanhola e o franquismo, o colonialismo e o pós-colonialismo a partir da presença portuguesa em África, a violência pós-ditatorial no Brasil - servindo a mesa-redonda final para dar corpo a uma reflexão mais funda sobre o tema.


Organização: