Resumo

Tendo em vista sua proposta pedagógica, que é a de desprender as trocas de um modelo capitalista de atribuição de valor, o mercado solidário das crianças demonstra que outras formas de se pensar a organização da vida económica, no âmbito familiar, são possíveis. Neste sentido, o clube de trocas não só estimula o desapego das crianças em relação aos seus brinquedos, como também desenvolve nelas o sentido solidário e de partilha, questionando a acumulação e a concentração já esboçadas de maneira preocupante nos hábitos infantis de consumo. O mercado de trocas do Botânico rebate a ideia dominante de que só as coisas novas têm valor e servem para brincar, ao mesmo tempo que estimula um circuito ininterrupto dos brinquedos trocados entre as crianças, ampliando as oportunidades de acesso de cada uma e promovendo a igualdade entre elas. A adoção de uma moeda social, denominada jardim, não ancorada no euro, reforça o caráter lúdico e solidário da experiência: não só amplia as condições de troca entre crianças com produtos muito diferentes, como também reconstrói o valor dos brinquedos conforme um sentido particularmente atribuído pelas crianças, na contramão do preço sempre crescente que o mercado estabelece.

A Casa da Esquina, com o apoio do Grupo de Estudos sobre Economia Solidária do CES (ECOSOL/CES), é a responsável pela organização desta quarta edição do mercado de trocas das crianças.