Oficina

O teatro do oprimido como ferramenta de investigação

José Soeiro (Sociólogo, investigador e curinga de Teatro do Oprimido)

16 e 17 de abril de 2013, 10h-13h | 15h-19h

Sala 1, CES-Coimbra

Enquadramento

Nesta oficina vamos explorar o método do Teatro do Oprimido, utilizando os diferentes jogos e exercícios do TO e concentrando-nos sobre a dramaturgia do teatro-fórum.

O Teatro do Oprimido, método político-teatral criado pelo brasileiro Augusto Boal, toma como ponto de partida uma inquietação profunda: será possível restituir a todos a capacidade de ser simultaneamente espectador crítico do que acontece e criador ativo da realidade? As suas hipóteses são também ambiciosas: “toda a gente pode fazer teatro, até os atores”; é preciso “devolver ao povo os meios de produção teatral”; um teatro transformador não é o que apresenta uma realidade fechada mas o que coloca um problema que cabe ao público discutir e, sobretudo, transformar. No Teatro do Oprimido, o público rompe a quarta parede invisível que separa palco e plateia, os que observam (espectadores) dos que detêm o monopólio da ação (os atores). A partir da condição de espect-ator, quem vê uma peça é chamado a vir ensaiar, no “palco”, soluções possíveis para o problema que ela coloca. O teatro-fórum, provavelmente a modalidade mais difundida do Teatro do Oprimido, é hoje utilizado em centenas de países no trabalho social, político e educativo. Em Portugal, há vários grupos comunitários que o utilizam como uma arma para pensarem as suas dificuldades e ensaiarem as transformações que pretendem pôr em prática. Mas o que tem tudo isto a ver com as ciências sociais e, em particular, com a possibilidade de uma “sociologia pública”?

A partir dos problemas e vivências identificadas pelo grupo, serão montadas algumas cenas de teatro-fórum. Se o teatro-fórum é uma pergunta sob a forma de teatro, como escolher a pergunta que queremos fazer sobre cada problema? A partir de que critérios e de que grelhas de análise? Como garantir uma dramaturgia que articule as múltiplas escalas da vida social, desde o nível da interação até à estruturação das relações de poder em termos de sistema? Como desenvolver uma dramaturgia que explore os diversos níveis e tipos de antagonismo que compõem esse sistema, e não apenas um conflito individual oprimido-opressor? Como desenvolver as personagens de tal modo que nelas esteja presente vontade e contra-vontade, densidade e contradição e que, em fórum, elas possam ser dialéticas? Como conceber uma peça, as personagens e as suas interações a partir da ideia de que os indivíduos existem no mundo social, mas o mundo social também existe nos indivíduos, sob a forma de rituais, modos de perceção, esquemas de pensamento, representações, mecanizações corporais, disposições, consciência prática? Como garantir que o anti-modelo é em si mesmo um estímulo e um convite à reflexão e à ação, não fazendo depender excessivamente do curinga a ativação dos espectatores? Como conceber uma peça de teatro-fórum no quadro de um processo mais longo e continuado de mobilização, organização e transformação social?


Nota biográfica do Curinga

José Soeiro é sociólogo, investigador e curinga de Teatro do Oprimido. Desenvolve projetos ligados ao teatro do oprimido desde 2002, em diferentes coletivos, associações, escolas, aldeias, instituições e movimentos sociais. Foi responsável pelo projeto “Estudantes por Empréstimo”, o primeiro projeto de teatro legislativo em Portugal, enquanto exerceu o mandato de deputado à Assembleia da República. Tem dinamizado oficinas de Teatro do Oprimido em Portugal, Croácia, Espanha, Itália, EUA.


Notas para participantes: A oficina é gratuita, mas a inscrição é obrigatória. Os/As participantes deverão trazer roupa confortável, alguma coisa para comer e muita animação.

Número máximo de inscrições: 20 pessoas

 

Nota: No âmbito do projeto BIOSENSE - O envolvimento da ciência com a sociedade: Ciências da Vida, Ciências Sociais e públicos