Palestra Performativa

Quando é que a revolução acabou? - memórias do processo de transição após a Revolução de Abril

Joana Craveiro (Doutoranda na Roehampton University)

8 de outubro de 2013, 16h00

Sala 6, CES-Coimbra

Resumo

A 25 de Abril de 1974, teve lugar um golpe de estado que viria a ser conhecido como a "Revolução dos Cravos", liderado por militares - as Forças Armadas Portuguesas - colocando um fim a uma das mais longas ditadura Europeias. Após o golpe de estado e durante 19 meses, Portugal iria viver um período chamado PREC, ou Processo Revolucionário em Curso. O povo tomou o poder nas ruas, as fábricas foram tomadas pelos operários, proprietários de terras foram expropriados, e as terras ocupadas por pessoas reclamando o “direito ao trabalho”, os jornais foram tomados pelos tipógrafos, as greves sucediam-se dia após dia, manifestos eram emitidos quase diariamente, a política estava em toda parte, em todas as conversas, ocupando o anterior silêncio. Esta revolução "desgovernada", como muitos estrangeiros a viam, foi foco de atenção para todos o tipo de pessoas: jornalistas, fotógrafos, ativistas políticos, cineastas, trabalhadores, que acorreram para experienciar diretamente uma “verdadeira” revolução. DL Raby escreve para o efeito: “Durante 19 meses, este pequeno e empobrecido país, na orla ocidental do continente, foi a experiência de um verdadeiro processo revolucionário como não foi visto na Europa Ocidental durante gerações" (D. L. Raby, Democracy and Revolution – Latin America and Socialism Today, London: Pluto Press, p.213).

A 25 novembro de 1975 um golpe de Estado organizado por uma facção moderada no seio das Forças Armadas colocou um fim a este “processo revolucionário”  e Portugal “voltou a entrar nos eixos”. O 25 de novembro é ainda hoje um episódio obscuro da história Portuguesa, para alguns tendo livrado o país de uma ditadura comunista, para outros representando uma traição aos ideais da revolução, acabando com ela. Se para algumas pessoas o 25 de novembro representa o inicio da verdadeira democracia, para outros representa a morte da liberdade política. Assim, quando é que a revolução teve um fim? Que revolução é esta que está em causa?  Trata-se apenas de uma revolução ou mais? Estas discrepâncias ganham hoje força, uma vez que a memória sobre estes acontecimentos está a ser constantemente alterada a cada novo governo e de acordo com a sua ideologia .

Esta palestra performativa  visa olhar para estas narrativas de transição, com depoimentos de várias pessoas envolvidas em ambas as "revoluções" de forma a destacar as memórias conflituantes relativas um dos momentos mais importantes e cruciais da história Portuguesa. Para além disso, irei aceder a filmes e documentários relevantes realizados durante este processo, nomeadamente "Scenes from the Class Struggles in Portugal" [Cenas da Luta de Classes em Portugal], de Robert Kramer e Philip Spinelli (1976), e "Torrebela", de Thomas Harlan (1975 /76) , bem como o documentário "Another Country" [Outro País], de Sergio Treffaut (1999), que documenta a produção de filmes estrangeiros durante este período.


Nota biográfica

Joana Craveiro - Encenadora de Teatro, performer, escritora, diretora do Teatro do Vestido, realiza de momento uma investigação de doutoramento na Roehampton University, Londres, sobre formas de transmissão de memória polítca em Portugal, com respeito as períodos da Ditadura, Revolução e Processo Revolucionário em Curso.


Nota: Atividade no âmbito do Núcleo de Estudos sobre Cidades, Cultura e Arquitectura (CCARq)