Teses Defendidas

Desaprendizagens, Universidades Populares e Epistemologias do Sul: Um diálogo a partir da Universidade Trashumante e da Universidade Popular dos Movimentos Sociais

Erick Morris

Data de Defesa
23 de Fevereiro de 2024
Programa de Doutoramento
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Orientação
Boaventura de Sousa Santos e Shirley Aparecida Miranda
Resumo
Esta tese é um estudo comparativo entre a Universidad Trashumante (UT) na Argentina e a Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) no Brasil, ambas Universidades Populares (UPs) na América Latina/Abya Yala. Com base nas epistemologias do Sul, que propõem a aprendizagem na copresença com movimentos sociais e uma "ecologia de saberes", o objetivo do trabalho é compreender a emergência de saberes nascidos da luta social na construção de uma conceção "pós-abissal" de conhecimento, refletindo sobre a colonialidade e as limitações das universidades convencionais e dos possíveis aportes da educação popular para transformá-las. Desse modo, trata-se sobre a "batalha de ideias", contra o "latifúndio do saber" e a "monocultura do saber científico", travada por grupos historicamente marginalizados na luta pela construção de um mundo mais plural e socialmente justo. As hipóteses trabalhadas são de que a UT e a UPMS, cada uma com suas particularidades, são embrionárias de um conhecimento "pós-abissal" e de que a aproximação mais efetiva de UPs com universidades convencionais contribui para a superação da crise de legitimidade dessas. Dividida em seis capítulos, a tese primeiramente faz um debate das correntes teóricas dos pós-colonialismos, dos estudos decoloniais e das epistemologias do Sul, justificando a escolha por essa última ao se fazer um recorte histórico-crítico da colonização europeia da região, hoje conhecida como continente Americano, com enfoque nos processos de dominação cultural e educacional, no qual a universidade teve um papel preponderante, desdobrando-se ao longo dos séculos. Em segundo lugar, aborda-se a contraposição de resistência ao processo colonial hegemônico com a formação da educação popular, oriunda dessa mesma região, traçando um panorama das experiências de UPs e a evolução dessas ao longo dos séculos XX-XXI, com as mais recentes agrupadas em três categorias de acordo com sua relação com o Estado e construção de autonomia. Em terceiro lugar, a opção metodológica é apresentada, sendo ela o estudo de caso alargado por meio da investigação militante e da observação participante, valendo-se das "Sociologias das Ausências e das Emergências", que permitiu um envolvimento mais profundo com ambas as UPs, tanto nos aspetos pedagógicos como organizativos, percebendo os modos artesanais de produção de saberes e de outras formas de se fazer política. As trajetórias de investigação e de trabalho de campo, analisadas nos dois capítulos empíricos e no diálogo estabelecido na parte final, instigaram a desaprender verdades estabelecidas. Por meio da "escuta profunda" e do "estar junto", foi possível aprender e construir novos conhecimentos, socialmente comprometidos, destacando a autonomia e a alegria como elementos fundantes desse processo no caso da UT e da tradução intercultural e interpolítica no caso da UPMS.

Palavras-chave: Universidades Populares; Educação Popular; Epistemologias do Sul; Universidad Trashumante (UT); Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS)