Dia Internacional da Pessoa Idosa | REMEMBER

CES-UC divulga resultados preliminares de estudo sobre o envelhecimento da população LGBTQ+ em Portugal

Alertando para a necessidade de sensibilizar para as questões do envelhecimento, respeitando e cuidando das necessidades da população mais idosa, o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC) associa-se às comemorações do Dia Internacional da Pessoa Idosa, através da divulgação dos primeiros resultados do projeto de investigação em curso REMEMBER – Vivências de Pessoas LGBTQ Idosas no Portugal Democrático (1974-2020), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, I.P./MCTES através de fundos nacionais (PIDDAC), ref.ª: PTDC/SOC-ASO/4911/2021.

Em anos recentes, o envelhecimento tem constituído uma área prioritária nas agendas governamentais e de investigação. Com ênfase no cuidado, bem-estar e saúde mental, o REMEMBER estuda o valor sociocultural atribuído à velhice em Portugal, a relação entre envelhecimento e sexualidade, e a ausência ou limites de políticas sociais adequadas a pessoas LGBTQ mais velhas (acima dos 60 anos). Como explica Ana Cristina Santos, Investigadora Responsável pelo projeto, «sem memória, perdemos a história. Aliando memórias passadas e a gestão da vida íntima no presente, no projeto REMEMBER estudamos, através de auscultação direta, os impactos sociais de crescer num tempo em que a diversidade sexual e de género era proibida (até 1982) ou associada à doença, como aconteceu nos anos 1980-1990, durante a chamada crise da sida».


Diagnóstico preliminar da população LGBTQ+ 60+

As pessoas LGBTQ+ acima dos 60 anos constituem uma população com características específicas, fortemente afetada por um passado de opressivo, cujas consequências foram já identificadas através dos primeiros dados recolhidos pela equipa do REMEMBER, que incidem fortemente na solidão relacional e na fragilidade de redes de cuidado.

A solidão relacional é agravada pela ausência de ligação à família biológica e/ou da existência de cônjuge. De um modo geral, as pessoas entrevistadas não se sentem parte de uma comunidade. A solidão relacional aparece por vezes associada a uma progressiva invisibilidade afetiva e erótica. No que se reporta às redes de cuidado e saúde, estas são escassas e centradas no cônjuge (quando existente). Por razões de preconceito, foram identificadas situações preocupantes relacionadas com cuidados de saúde, com consequências sobre o bem-estar emocional, antes, durante e depois da pandemia.

Relativamente a planos de preparação para o fim de vida, a maioria das pessoas não apresenta um plano estruturado, nem tão-pouco uma intenção acerca do modo como deseja passar os últimos anos da sua vida. A ausência de planos não equivale a ausência de sonhos: a possibilidade de viver em comunidade, com autonomia, mas junto de pessoas que valorizam a diversidade, faz parte do desejo de várias pessoas entrevistadas. O co-housing emerge, assim, como uma forma de preparação para a velhice que seria bem acolhida.


Repensar o envelhecimento através uma lente de género e sexualidade

Em pleno século XXI, com medidas de promoção do chamado envelhecimento ativo, a sexualidade na velhice permanece um assunto tabu. Há um silêncio em torno da vida sexual em forte contraste com o zelo face a cuidados de saúde sénior que, invariavelmente, exclui o prazer e a autodeterminação sexual e de género.

Como sublinha ainda Ana Cristina Santos, «as experiências de vida na primeira pessoa que estamos a recolher constituem ferramentas fundamentais para o resgate de uma História por contar, bem como para o desenho de medidas de intervenção no terreno que tragam alívio, justiça e reparação às pessoas LGBTQ+ idosas, num contexto que visa mais e melhor democracia, mais e melhor cidadania».

A Fase 2 do projeto REMEMBER aprofundará algumas destas questões, prevendo-se a sua conclusão em setembro de 2023. Até ao final do projeto, em 2024, irá realizar-se um conjunto de iniciativas ao nível da produção de conhecimento científico original, capacitação de públicos diversificados e sensibilização social. Haverá ainda lugar para a produção de um Guia para Pessoas Prestadoras de Cuidados a Pessoas Idosas e a criação do Arquivo online de histórias de vida LGBTQ+ 60+.