Seminário | Doutoramento em Estudos Feministas

Vivendo a quinta vaga de feminismo: os estudos de envelhecimento a traçar novos caminhos

Zuzanna Zarebska Sanches (ULICES/CEAUL)

17 de março de 2022, 17h00

Anfiteatro III, Faculdade de Letras da UC

Comentários: Adriana Bebiano (CES/FLUC)
 

Apresentação

O surgimento de uma nova área interdisciplinar de estudos sobre envelhecimento constitui uma resposta urgente face à desigualdade como também uma reflexão cultural e política sobre um vasto e ativo grupo de pessoas de qualquer sociedade contemporânea. No contexto dos recentes escândalos de abusos e de violência contra as mulheres, e também do renascimento de um machismo pujante, são as mulheres de qualquer idade que requerem a nossa especial atenção.

Já no artigo “The Double Standard of Living” publicado no Saturday Review em 1972, Susan Sontag denunciava a dupla e hipócrita divisão entre homens e mulheres na suposta “fase de envelhecimento”. Duplamente invisíveis, com corpos que “não podiam” ser representados nas artes visuais, as mulheres eram apagadas do discurso e das representações públicos, mais frequentemente no momento que coincidia com a sua menopausa. Sontag escreveu que “A sociedade foi sempre mais permissiva para com os homens e o seu envelhecimento do que com as mulheres”, que se tornavam obrigatoriamente invisíveis, cinzentas e inúteis, curiosamente sendo um grupo social cuja longevidade é muito maior do que o dos homens.

Julia Twigg defende que tanto o género como a idade não deixam de ser apenas estruturas sociais criadas pela sociedade, algo também defendido pela filosofa e feminista Judith Butler. Butler, a autora de Gender Trouble e Precarious Life, entre muitas outras obras, traz-nos conceitos já trabalhados por Hobbs, Weber e Foucault: a violência e o poder, o controle e a disciplina, a reprodução e a saúde. Assim sendo, o envelhecimento não é apenas uma fase coletiva, mas sim, uma experiência individual de cada um/a em relação ao seu corpo e ao mundo que o/a rodeia que as instâncias de poder tentam controlar e definir.

Além de mudar o status quo de invisibilidade, exclusão e “desemancipação”, os estudos de envelhecimento procuram responder a muitas perguntas, entre elas: De que é que é capaz o corpo? Como é que o corpo é definido, vigiado e disciplinado? Quais são os obstáculos e as possibilidades que o envelhecimento nos traz?

Este seminário abordará questões implícitas no envelhecimento, cruzando com estudos de género e da identidade. Falaremos sobre a invisibilidade e a representação de mulheres na literatura e cultura, mas também sobre a sua libertação para a “avenida de liberdade” (Greer), na qual as mulheres podem vivenciar os seus corpos e definir os seus caminhos.

Dando voz às mulheres trabalharemos com ideias de Germaine Greer, Susan Sontag e Judith Butler. Serão abordados fragmentos de textos de Éilís Ní Dhuibhne, Mary Morrissy e Siri Hustvedt.


Nota biográfica

Zuzanna Zarebska Sanches (PhD, Post-Doc) é investigadora no Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa (ULICES/CEAUL. Foi investigadora visitante na National University of Ireland, Maynooth e na University College Dublin, Irlanda, sob a supervisão da Prof. Margaret Kelleher, tendo trabalhado sobre a escrita contemporânea de escritoras irlandesas. Os seus interesses de investigação incluem literaturas e culturas Irlandesa e Britânica, estudos de diáspora, feminismos, estudos de género e identidade, e de envelhecimento. É membro dos projetos RHOME e Humanidades Médicas. Leciona no Departamento de Estudos Ingleses da Universidade de Lisboa. Atualmente desenvolve um projeto sobre mulheres e envelhecimento, “Women and Ageing: Towards equality, dignity and improvement of life and well-being.”