Teses Defendidas

Travestis brasileiras no sul da europa: subalternidade e reconhecimento nas fronteiras do gênero e sexualidade

Fernanda Belizário

Data de Defesa
25 de Janeiro de 2019
Programa de Doutoramento
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Orientação
Catarina Martins e Ana Cristina Santos
Resumo
O objetivo desta tese é produzir um diálogo entre os estudos pós-coloniais e a teoria queer de modo que tornem visíveis as experiências das travestis brasileiras trabalhadoras do sexo que emigram para a península Ibérica. Parto do reconhecimento de que a travesti é uma identidade de gênero dissidente e não-ocidental dentro do espectro transgênero, reconhecidamente encontrada em todo o território latino-americano. Diferentemente da transexualidade, sua especificidade se dá a partir de um encontro violento com a sociedade cisheteronormativa, relegando-a a espaços desprovidos de segurança e reconhecimento social. A circulação de travestis no trabalho sexual - aqui entendido como ocupação profissional, um espaço de reconhecimento e, muitas vezes, de experiências positivas e significativas - conforma um campo compartilhado de valores, hierarquias e pertenças nomeado na literatura como "campo das travestilidades" em que a construção do corpo, as possibilidades de ganhos profissionais e reconhecimento social fora dos espaços tradicionais de circulação travesti são amalgamados a partir de visões de mundo que têm na figura da europeia (termo êmico que designa as travestis que emigraram para a Europa por um curto ou longo período) uma posição de grande prestígio. Parto do conceito de migrações travestis para observar os percursos simbólicos, corporais, territoriais e sociais dessas mulheres com base em um trabalho de campo que envolveu pesquisa biográfica e observação da atividade profissional das travestis em contexto de rua nas cidades de Barcelona (Estado Espanhol) e Porto (Portugal). A partir do trabalho de campo, esta tese organiza as motivações para emigrar, as questões envolvidas no trânsito internacional de trabalhadoras do sexo e a forma como organizam as suas vidas e seus deslocamentos na Europa. A partir deste movimento de partidas e chegadas, esta tese articula as vivências das travestis a partir das macronarrativas e fronteiras que as tornam hipervisíveis e invisíveis tanto na literatura acadêmica, no trabalho sexual e no ativismo trans. Ao mesmo tempo, percebe como articulam seus próprios espaços de enunciação e re-existência a esses discursos que as relegam ao espaço do abjeto por meio de estratégias que nomeei como auto-etnográficas. Portanto, caracterizo as travestis como sujeitas queer pós-coloniais pela maneira como buscam alargar a compreensão do gênero para além da cisheteronormatividade por meio de lógicas subalternas de re-existência.

Palavras-chave: travesti; queer; pós-colonial; transgénero; migrações queer