Gender workshop

Controvérsia Feminista sobre o Rendimento Básico Universal

Lina Coelho (CES/FEUC)

25 de janeiro de 2018, 17h00

Sala 2, CES | Alta

Resumo

A questão dos efeitos do Rendimento Básico Incondicional (RBI) na promoção da igualdade de género é controversa. De um lado defende-se que o RBI contribuirá para a autonomia económica das mulheres, reforçando o seu poder negocial na família, ao mesmo tempo que eliminará a dependência que os sistemas de segurança social mantêm relativamente ao trabalho remunerado, que prejudica as mulheres (Fitzpatrick, 1999; McKay, 2001; 2005; Zelleke, 2011; McLean, 2016, 2015). Do outro lado, contrapõe-se que o RBI, ao desligar a obtenção de rendimento da situação de emprego, irá fazer regressar as mulheres ao espaço doméstico, em conformidade com os papéis sociais de género prevalecentes, provocando assim um retrocesso na divisão tradicional do trabalho entre homens e mulheres e, consequentemente, nos progressos já conseguidos em matéria de igualdade de género (Gheaus, 2008; Robeyns, 2001).

Há que reconhecer que a dissociação (parcial) entre rendimento e emprego que o RBI comporta envolve, de facto, o risco de reforço da segregação de papéis de género. Mas, por outro lado, enquanto medida vocacionada para a erradicação da pobreza, o RBI favorecerá de forma privilegiada as mulheres na medida em que elas estão sobrerrepresentadas na população em risco de pobreza. Por outro lado, o desligamento entre rendimento e emprego pode contribuir para esbater a fronteira rígida entre trabalho não remunerado (predominantemente feminino) e trabalho remunerado (ainda visto como masculino). Nesse sentido, o RBI será uma ferramenta importante para revalorizar o trabalho socialmente útil que é atualmente prestado graciosamente e que, embora não se esgotando no criar e cuidar (trabalho reprodutivo), encontra neste a sua expressão mais significativa.

Finalmente (e principalmente), ao assegurar mínimos de segurança económica para todas as pessoas, o RBI contribuirá para a autonomia económica e o estatuto social das mulheres mais desfavorecidas, constituindo desse modo uma ferramenta potente para superar as desvantagens interseccionais entre género, classe e raça, entre outras.


Nota biográfica

Lina Coelho é professora auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigadora no núcleo de estudos em Ciência, Economia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais (CES). É doutorada em Economia pela mesma universidade, com uma dissertação que aborda as desigualdades de rendimento em Portugal dando ênfase à perspetiva de género. Os seus interesses de investigação incluem tópicos de economia da desigualdade, economia feminista e economia da família. Nos últimos anos tem focado a sua investigação na gestão do dinheiro pelos casais com filhos, decisão económica intrafamiliar e efeitos da crise econômica nas desigualdades de género. Tem publicado vários trabalhos sobre estas questões.


Leituras recomendadas:

Coelho, Lina (2017), "Rendimento Básico Incondicional, segurança económica e igualdade de género", Comunicação apresentada no 17thBIEN Congress, 26 de setembro de 2017, Lisboa.
https://estudogeral.sib.uc.pt/jspui/handle/10316/44882

Zelleke, Almaz (2011), “Feminist political theory and the argument for an unconditional basic income”, Policy & Politics 39(1), pp 27-42.
https://almazzelleke.files.wordpress.com/2015/08/zelleke-feminist-political-theory-and-ubi.pdf
 

[Os textos propostos estão on-line e são de livre acesso. Caso tenha dificuldade em aceder, poderá enviar um e-mail solicitando os mesmos para gw@ces.uc.pt]


[Esta sessão integra o Ciclo Gender Workshop Series VIII que decorre entre outubro de 2017 e junho de 2018]