Apresentação

No momento em que se regista uma disputa, no espaço público português, sobre a memória e a identidade nacionais, assente na discussão do passado colonial, é fundamental notar processos de memorialização contra-hegemónica, que surgem no universo literário, quer sob a forma de memórias e testemunhos, quer com recurso à ficção. Este artigo analisa quatro narrativas de mulheres portuguesas, dos anos 1980 à contemporaneidade, que apresentam uma memória profundamente crítica do colonialismo português em África, reivindicando uma voz narrativa na construção da História, contestando não só determinados pressupostos ideológicos como a racionalidade androcêntrica das narrativas e das estéticas dominantes. Neste processo de emancipação das mulheres portuguesas, concomitante com a libertação da opressão colonial, revela-se, porém, a produção de outras relações de opressão que urge, hoje, confrontar com produções literárias que partam de outros lugares de enunciação.