Projeto de Tese de Doutoramento

Afeto, democracia e tecnopolítica no Brasil (2015-2016): uma abordagem feminista

Orientação: Luciane Lucas dos Santos

Programa de Doutoramento: Democracia no Século XXI

Os sentidos da democracia vêm sendo disputados ao longo do tempo, tanto pela produção de conhecimento a partir de constructos teóricos, que se apresentam como formas de ver o mundo, como pela disputa por meio de práticas que reinventam os sentidos do que seja o comum e a participação, especialmente protagonizadas pela atuação dos movimentos e coletivos populares e sociais, em diversos lugares do mundo.

A contribuição original desta investigação reside no enfrentamento de outros modos de pensar os sentidos e os fins da democracia, tendo os afetos em consideração. Intenciona especificamente, a partir de um estudo de caso, contribuir à reflexão sobre como os estudos de Tecnopolítica e Democracia podem ser empreendidos desde uma perspectiva feminista.

Uma das grandes contribuições dos feminismos à democracia advém de uma interpretação renovada do que seja o político. Sob a consideração de que "o pessoal é o político" (Hanisch,1969) uma redefinição do que é o "pessoal" deve ser também convocada. Tal operação provoca diversos e conflituosos desdobramentos na definição do privado ou pessoal e do público ou político.

Podemos pensar a democracia a partir dos afetos? Nos contextos de lutas dos diferentes coletivos, como os afetos comparecem como elementos que produzem e disputam sentidos ao que vem sendo nomeado como democracia? Essa disputa pode definir destinos políticos?

A partir de um estudo de caso no Brasil, buscarei responder a essa questão, analisando a tecnopolítica de três movimentos sociais com distintos matizes políticos, na plataforma digital Facebook, entre 2015 e 2016, ano da deposição da presidenta Dilma Rousseff. Com isso busco apreender aspectos relevantes da tecnopolítica, da micropolítica e dos afetos como contribuição para, eventualmente, lançar luzes sobre uma ideia de democracia sem universalismos.

​Parto de três perspectivas. A primeira é que pensar a democracia acompanhada dos feminismos e pela via da micropolítica permite acessar outras compreensões e elevar o afeto em sua dimensão política. A segunda é que, ao tomar a tecnopolítica dos coletivos para pensar a democracia e o papel dos afetos, reconheço que as novas tecnologias propiciam novas formas de participação política e democrática. Considerando que essa prática política se dá na cibercultura, a tarefa de analisar seu efeito no campo democrático inclui desafiar as fronteiras do social e do tecnocientífico, reconhecendo a onipresença de discursos e práticas tecnocientíficas que incidem na produção de novas formas de subjetivação, novas corporeidades, novas territorialidades e novos desdobramentos à esfera pública. A terceira é que, ao longo de uma cartografia da controvérsia sobre os sentidos de democracia disputados, ao rastrear os fluxos das relações, dos vínculos, das performances associativas estabelecidas isso pode, eventualmente, trazer elementos para pensar de modo diferente as relações de poder, identidade, reconhecimento da alteridade e a performance dos afetos em sua relação com a democracia.

A investigação, em sua perspectiva epistemológica e metodológica, objetiva produzir conhecimento a partir de uma perspectiva feminista. Nesse processo de construção de um método interdisciplinar, recorro à pesquisa engajada, à análise de redes, à cartografia das controvérsias e à realização de entrevistas com coletivos/movimentos sociais. Tenho como base teórica a Tecnopolítica, as Ciências Humanas Digitais e as Perspectivas Críticas.