Teses Defendidas

CHRONIQUEERS. Time, care and visibility in narratives from queer people with a chronic illness

Mara Pieri

Data de Defesa
19 de Fevereiro de 2021
Programa de Doutoramento
Human Rights in Contemporary Societies
Orientação
Bruno Sena Martins e Elia AG Arfini
Resumo
Esta dissertação analisa narrativas de jovens adultos LGBTQ+ com doença crónica. A pesquisa assenta em 24 entrevistas narrativas realizadas em Portugal e Itália entre 2016 e 2019.

Em primeiro lugar, este trabalho visa explorar em que medida as vivências da doença crónica e da identificação enquanto LGBTQ+ interagem com múltiplas formas de opressão. Referindo-se aos estudos crip e aos estudos queer, a tese examina o modo como a heteronormatividade e o capacitismo (re)produzem normas que afetam a percepção dos corpos, tanto no espaço privado quanto no público. Em segundo lugar, a pesquisa interroga se a conjugação de doença crónica e identificação LGBTQ+ no contexto do Sul da Europa é reveladora de sujeitos anti-normativos (re)produtivos e um entendimento diferente acerca dos direitos humanos a partir de uma lente interseccional. Por fim, visa compreender quais práticas de tempo, cuidado e visibilidade que são postas em prática para lidar com as pressões da heteronormatividade e do capacitismo. Tomando como referência a interseccionalidade, interroga-se sobre que outros múltiplos fatores interferem nas vivências das pessoas entrevistadas, tais como classe, género, capital cultural e nível educacional. Além disso, através da análise de narrativas pessoais, analisa como os/as entrevistados/as fazem sentido da sua identidade e em que medida as práticas de resistência correspondem a reivindicações políticas.

Em suma, do ponto de vista teórico, a pesquisa convoca principalmente os estudos queer, a sociologia da saúde e da doença e os estudos críticos dos direitos humanos, sublinhando as intersecções entre heteronormatividade e capacitismo, e propondo uma compreensão queer-crip sobre tempo, visibilidade e cuidado.

A tese está dividida em três secções. A primeira (capítulos 1 e 2) estabelece as bases teóricas através de uma discussão da literatura existente na sociologia da saúde e da doença em torno das doenças crónicas, refletindo ainda sobre mudança teórica decorrente dos estudos crip. Esta primeira parte analisa também os contributos provenientes das teorias queer sobre identidade e tempo. A segunda parte (capítulos 3 e 4) começa por descrever as características sociopolíticas dos contextos italiano e português em relação aos direitos LGBTQ+ e aos cuidados de saúde, precisando ainda a metodologia escolhida e refletindo acerca dos desafios encontrados durante o trabalho de campo. A terceira parte (capítulos 5, 6 e 7) analisa os dados empíricos através de um olhar atento a três temas principais: a intimidade e a construção de relacionamentos significativos; a negociação do cuidado, tanto nas redes informais quanto nas formais; a relação com o espaço público, em particular com o trabalho e o ativismo. As dimensões de análise que incidem sobre tempo, cuidado e visibilidade serão transversais a todos os capítulos empíricos.
A tese, por fim, discute a possibilidade de considerar uma subjetividade política denominada "croniqueer" que sintetiza a experiência LGBTQ+ da doença crónica como transformadora das conceções de tempo, cuidado e visibilidade e, em última instância, das práticas de direitos humanos.

PALAVRAS-CHAVE: doença, sexualidade, LGBT, cuidado, direitos humanos