ADeTiL
A autodeterminação de Timor-Leste: um estudo de História Transnacional

Período
1 de outubro de 2018 a 31 de julho de 2022
Duração
46 meses
Resumo

O reconhecimento do direito à autodeterminação e independência data do final da II Guerra Mundial, quando o mundo passou 'da idade dos impérios para a idade das superpotências' (Hilton & Mitter 2013). 'No sudeste asiático as colónias ocupadas pelos japoneses viveram 'uma oportunidade única' [...] que tornou difícil se não mesmo impossível às potências europeias recuperar as suas anteriores posições', abrindo assim a 'primeira vaga de descolonização' (Shipway 2008). Timor esteve envolvido nesse processo, mas haveria de demorar três décadas antes que vivesse plenamente uma tal experiencia. Portugal recuperou o controlo da sua colónia depois da rendição japonesa, já que Salazar havia garantido o apoio dos Aliados para a integridade do Império nas negociações sobre as bases dos Açores (Rodrigues 2003, Maxwell 2004). Mas o gigante vizinho gigante (Indonésia) foi um dos primeiros a sacudir o jugo colonial em 1945, criando uma situação delicada para Portugal. Os poderes ocidentais desconfiavam da capacidade portuguesa para segurar o estatuto de Timor, e favoreceram discretamente a sua integração na Indonésia (M. Fernandes, 2016). O status quo só foi perturbado pelo 25 de Abril, apesar de uma revolta em 1959 (Gunter 2007, Chamberlain 2009). Portugal teve então dificuldade em formular um quadro credível para a transição (Santos 2006). O modo como lidou com o tema é um ponto controverso (Pires, 1991, Durand & Dovert 2016). As negociações para uma solução 'pactada' falharam, irrompeu uma breve guerra civil, a FRETILIN proclamou a independencia, e a Indonésia interveio militarmente frustrando a descolonização do território (Figueiredo 2015). Portugal recusou-se a internacionalizar o conflito enquanto acreditou na sua presença militar, mas o caso acabou por ir parar à ONU (Carey 2010). No quarto de século seguinte, a luta pela autodeterminação de Timor iria combinar fatores internos (a Resistência armada e clandestina, a evolução de instituições chave como a Igreja Católica e de individualidades de peso como o governador Mário Carrascalão [2006]) com poderosos movimentos externos, quer diplomáticos, quer de mobilização da opinião pública, envolvendo diretamente Portugal (onde o caso foi acompanhado pelo Presidente da República, Assembleia da Republica, Governo, Conselho da Revolução), a Indonésia e a ONU, e indiretamente países como a Austrália e os EUA (C. Fernandes 2011). Criou-se assim um ambiente transnacional no qual evoluiu a 'questão de Timor' que 'transcende a história das relações entre governos, ou mesmo a história de indivíduos ou organizações que agissem em nome dos seus governos' (Hogan 2004) para abraçar atores fora do perímetro clássico das relações entre estados e uma opinião publica cativa. É este o quadro que irá balizar a nossa investigação, que se realizará principalmente em Portugal, mas que terá extensões através de pesquisa documental/arquivística e de entrevistas - na Indonésia, na Austrália, nos EUA/ONU, e em Timor-Leste.

Investigadoras/es
Miguel Bandeira Jerónimo
Pocut Hanifah
Rui Feijó (coord)
Zélia Pereira
Palavras-Chave
autodeterminação, Timor, Timor-Leste, indonésia
Financiamento
Fundação para a Ciência e Tecnologia