Seminário

Cartografias da (negação à) diferença: uma reflexão a partir do QueerMuseu

31 de outubro de 2017, 14h30

Sala 1, CES | Alta

Enquadramento

Dia 10 setembro, o Santander Cultural cancelou, sem comunicar ao curador, a exposição “QueerMuseu: cartografias da diferença na América Latina”. A justificação para o cancelamento desta exposição patente em Porto Alegre, por parte do  seu patrocinador, baseou-se na acusação de incentivo à pedofilia, zoofilia e atentado aos bons costumes bradada por grupos conservadores nas redes sociais brasileiras (e não só).

Queermuseu propunha-se a dar visibilidade à diversidade de expressões de gênero e sexualidade na arte e na cultura, de meados do século XX aos dias de hoje, trazendo 270 trabalhos assinados por 85 artistas dentre nomes consagrados e marginalizados dentro do mercado das artes.

Os debates gerados pelo encerramento desta exposição são mais um elemento catalisador das expressões conservadoras que vêm ganhando espaço no Brasil pós golpe parlamentar. Estas expressões conservadoras atacam as diversas de sexualidade e de género, apresentadas como o espaço do instável e do pânico moral, relegadas ao lugar do indizível, do inominável, da violência corporal e cognitiva.

Este seminário pretende pensar, a partir de diversos horizontes epistemológicos, as articulações e consequências da arte que contesta a ordem cisgênero, heterossexista, branca, capitalista e colonial do mundo, tendo por pano de fundo a celeuma provocada pelo cancelamento da exposição QueerMuseu.
 

Atividade no âmbito do Programa de Doutoramento Pós-Colonialismos e Cidadania Global (CES/FEUC) |  Organizadoras: Fernanda Belizário e Rita Alcaire

 

Convidadxs

Ana Cristina Santos É Socióloga. Doutorada em Estudos de Género pela Universidade de Leeds, Reino Unido, Investigadora no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, e Honorary Research Fellow no Birkbeck Institute for Social Research, Universidade de Londres e sócia-fundadora da não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais. Tem trabalhado em projetos de investigação sobre género, sexualidade, movimentos sociais, cidadania e direitos humanos. Coordena atualmente o projeto INTIMATE- Citizenship, Care and Choice: The micropolitics of intimacy in Southern Europe, financiado pelo European Research Council. que aborda a conjugalidade lésbica, poliamor, procriação medicamente assistida e a centralidade de relações de amizade entre pessoas transgénero.

António Fernando Cascais - Professor Auxiliar no Departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens onde coordenou os projectos FCT de I&D Modelos e Práticas de Comunicação da Ciência em Portugal (2004-2009) e História da Cultura Visual da Medicina em Portugal (2009-2013). Organizou três números da Revista de Comunicação e Linguagens - “Mediação dos Saberes”, “Michel Foucault. Uma Analítica da Experiência” e “Corpo, Técnica, Subjectividades” - e os livros Indisciplinar a Teoria (Fenda, 2004) e A sida por um fio (Vega, 1997).

Daniel Lourenço - É um investigador e escritor que vive e trabalha em Lisboa. Tem um mestrado em Sexual Dissidence in Literature and Culture pela Universidade de Sussex. É doutorando na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde trabalha sobre questões de relacionalidade e afetividade na obra de autoras experimentais contemporâneas (Monique Wittig e Kathy Acker). Os seus interesses incluem os estudos literários e culturais, as teorias queer e feminista(s) e teorias críticas da corporalidade. É o autor dos panfletos poéticos "Lábio/Abril" (Traveller, 2015) e "fox, closet & fist" (Winter Olympics, 2017).

Gaia Giuliani É Investigadora em Pós-doutoramento do CES e doutorada pela Universidade de Torino, foi Honorary Visiting Scholar na University of Technology de Sydney, na University of Leeds e no Goldsmiths College, University of London. Os seus interesses de pesquisa concentram-se na construção visual da raça e branquitude (whiteness) numa perspectiva interseccional na experiência colonial e nos processos de fundação dos estados-nação britânico e italiano, além dos Estados Unidos da América, do Pacífico e da Europa pós colonial. Ajudou a fundar, em 2014, o grupo de pesquisa em raça e racismos (InteRGrace) na Universidade de Pádua, além de fazer parte do corpo editorial e advisory boards de publicações académicas de prestígio no Reino Unido, Itália e Austrália.

Jota Mombaça é uma bicha não binária, nascida e criada no Nordeste do Brasil, que escreve, performa e faz estudos acadêmicos em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, estudos kuir, giros descoloniais, interseccionalidade política, justiça anti-colonial, redistribuição da violência, ficção visionária e tensões entre ética, estética, arte e política nas produções de conhecimentos do sul-do-sul globalizado.

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[Imagem: © «Is a feeling» - Cibelle Cavalli Bastos (2013)]