Projeto de Tese de Doutoramento
Instacity: A cidade representada pelas novas tecnologias de comunicação Os casos de Lisboa e do Porto
Orientação: Carlos Fortuna
Programa de Doutoramento: Cidades e Culturas Urbanas
Financiamento: FCT
Com um simples toque, os nossos dispositivos móveis podem mostrar fragmentos de cenas urbanas, criando uma cidade paralela em forma de mosaico digital. Estas impressões visuais resultam da utilização massiva da câmara do smartphone, dispositivo sociotécnico que permite capturar, editar e partilhar imagens através de plataformas sociodigitais como o Instagram. Esta tese tem como objetivo analisar a emergência das urbanidades visuais na plataforma Instagram, bem como as novas dimensões das práticas pós-fotográficas e no seu papel na construção de representações e imaginários urbanos. Estas práticas resultam das assemblagens do dispositivo sociotécnico smartphone e da reconfiguração dos valores fotográficos no contexto das novas tecnologias de comunicação nas cidades. Como casos de estudo foram selecionadas duas cidades portuguesas com uma presença significativa no Instagram: #Lisboa e #Porto. A abordagem metodológica articula etnografia digital, análise visual e cartografia de imagens para investigar as interconexões entre as práticas pós-fotográficas da materialidade urbana e os fluxos visuais da rede sociodigital. Na investigação de terreno, as performances pós-fotográficas registadas correspondem aos principais focos de atenção visual: a estação de São Bento e a ponte D. Luís I no Porto, bem como os miradouros e as ruas do bairro de Alfama e a Praça do Comércio em Lisboa. Estes espaços, conceptualizados como (micro)territórios urbanos, possuem uma identidade visual particular que orientou os percursos pós-fotográficos nos espaços estudados, num registo documental das práticas e performances dos fotógrafos-instagrammers. A partir das observações etnográficas e da análise visual foram identificados três eixos de análise: 1) identidade, criatividade e perspetivas urbanas; 2) arquiteturas do quotidiano; e 3) consumo e turismo urbano. Estas visualidades urbanas "em rede" abrangem múltiplas formas de representação e ressignificação dos espaços urbanos marcados por desigualdades visuais. A análise revela como estas urbanidades visuais expressam tanto estéticas urbanas hegemónicas relacionadas com o turismo e o consumo, como abordagens e perspetivas criativas da vida quotidiana e elementos enraizados na cultura local. Estas imagens revelam fissuras na hegemonia visual da rede, evidenciando um potencial de contra-olhares, ainda que subtil, face à construção imagética dominante. As urbanidades visuais de Lisboa e do Porto apresentam assim um palimpsesto de expressões e significados que configuram a cidade instagramável.